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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Crônicas de Kethoth



Capítulo 2

E
ncaminhando-se para o portão, Kethoth já vira várias coisas da cidade de que sentiria falta assim que partisse. Uma delas era a fonte de água doce que jorrava bem no centro do bairro dos templos. Uma benção dos tempos dos deuses-faraós.
Poucos lugares em Mulhorand tinham água doce em abundância o bastante para “esbanjar” daquela forma. Skuld, que era capital desde os tempos do antigo império, era a cidade mais rica do reino e ainda assim tinha apenas uma porção de fontes como aquela e essa era a maior. No período do Império, diziam as lendas, Mulhorand fora composta por imensos campos verdejantes. Tão infindáveis como agora pareciam as dunas do grande deserto.
A lenda conta que o grande deserto teria surgido cerca de três mil anos antes, quando as divindades de Mulhorand teriam guerreado contra as divindades de Unther, o país que até o tempo de Kethoth estendia-se pela fronteira ocidental do outro lado do golfo do Mar de Alamber. Depois das guerras, que o panteão de Mulhorand ganhou a duras penas, os campos dos dois países passaram a ficar mais estéreis até, por fim, se transformarem em um imenso deserto de areias claras.
Mas mesmo com o deserto, nenhuma cidade, tanto de Mulhorand quanto de Unther, sofria de seca. Chovia com certa frequência, porém a areia levava toda a água que não era guardada de imediato, o que fazia a escassez de água ser elevada. Os dois rios que corriam dentro do território do império eram cheios durante o verão e facilitavam razoavelmente o cultivo de cereais perto das margens e até onde as irrigações levassem a água do rio, mas a água costumava não ser boa para beber.
Claro que com todas essas informações incoerentes, vocês devem estar enlouquecendo para tentar entender a geografia de Mulhorand, mas posso assegurar que ela é bem simples. A oeste, o Mar de Alamber e Unther. A noroeste, o Mar das Estrelas Cadentes, ligado ao Mar de Alamber e além-mar, Aglarond e Thay, duas nações governadas por magos. A norte, a nação amiga de Murghôm, as montanhas de Cobre e a grande Floresta Selvagem, tudo isso depois do grande rio Rauthenfluxo que liga o Lago da Estrela Brilhante ao Mar das Estrelas Cadentes. A leste, as Montanhas Espada do Dragão, que abriga Mishtan, a cidade dos mortos, e depois a Planície da Poeira Púrpura e finalmente a imensidão. A sudeste, Veldorn, Durpar e Estagund, três nações que o faraó já cogitou anexar ao império, mas ainda não chegou a passar de planos e para o sul a grande planície abandonada chamada de “O Shaar”. De todas essas nações somente Mulhorand conseguiu se perpetuar durante mais de três milênios e com certeza também é a nação que tem mais avanços tecnológicos e científicos, tanto na área da agricultura, como na área da medicina e da astronomia.
A geografia interna de Mulhorand é ainda mais simples. No extremo sul do território corre de sul a norte o Rio das Espadas, que vem de Azulduth, o lago de sal e desemboca na parte mais austral do Mar de Alamber. Bem mais ao norte corre o Rio das Lanças, de leste para oeste, vindo das Montanhas Espada do Dragão e indo também para o Mar de Alamber. O Rio das Lanças é aquele que banha Gheldaneth, a cidade estaleiro de Mulhorand. Ainda mais ao norte corre o Rio das Sombras, também de leste para oeste com um curso semelhante ao do Rio das Lanças. O Rio das Sombras banha Skuld, capital do império e cidade natal de Kethoth.
E quando Kethoth chegou à barraca azul que estava montada junto ao portão na manhã de sua partida, foi o mapa dessas terras que encontrou. Ele porém, deu pouca atenção ao mapa, pois junto ao mapa estava seu amigo, companheiro e mestre Urhur. Urhur era de família simples, neto de escravo liberto, mas tinha acendido na hierarquia Mulhorandi, pois estudara os caminhos dos deuses. Especificamente, estudara os caminhos do deus da guerra, Tempus. E por ser senhor do combate fora um dos mestres de armas de Kethoth. Era bom ver que seu primo Horustep tinha tido o bom senso de indicar uma pessoa tão experiente para viajar consigo, por mais que fosse Kethoth quem comandasse.
Kethoth sorriu ao ver Urhur e deu-lhe um abraço forte. Quando se soltaram, o mais velho olhou para as vestimentas e para a armadura dourada do outro com uma expressão de satisfação.
– A armadura dourada fica muito melhor em você do que em mim. – Disse Urhur com um sorriso zombeteiro. – Exatamente da mesma forma que os três círculos, como lhe disse da primeira vez que nos vimos.
– Agora estou começando a concordar com você. – Respondeu Kethoth devolvendo a zombaria. – Para falar a verdade, acho que qualquer coisa fica melhor em mim do que em você.
Os dois riram e bateram um no ombro do outro e Urhur chamou Kethoth para dar uma olhada no mapa que abrira sobre a mesa de armar.
– Vamos seguir a trilha oriental até Gheldaneth. Por mais que nos afastemos de fontes de água, pelo menos atravessaremos o deserto em três dias. Costeando o mar levaríamos pelo menos meia dezena (as semanas de Faerûn duram dez dias cada e são chamadas de dezenas). De lá velejaremos depressa até os arredores de Shussel.
– E por que não atacamos por mar a cidade? – Perguntou Kethoth, mas mesmo no começo da pergunta Urhur já abanava negativamente com a cabeça, esperando a pergunta.
– As docas de Shussel são separadas da cidade pela muralha. Poderíamos tentar usar o Pó de Fumaça dos gnomos, mas dizem que ele não é capaz de derrubar muralhas, então acho mais prático velejarmos até as redondezas de Shussel, desembarcarmos e recobrarmos as forças junto a praia de Unther e então atacaremos pela manhã com escadas que já estão sendo fabricadas nesse exato momento em Gheldaneth.
– Ótimo. E o que estamos esperando então? – Perguntou o Aasimar.
– Ora. – Respondeu Urhur com um sorriso no rosto novamente. – Suas ordens, General!
 

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