Capítulo 4
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inha parado de
chover cerca de um quarto de dia depois de desembarcarem e começarem a preparar
acampamento perto da praia. A areia estava encharcada e os soldados, carregados
como estavam de equipamentos militares e mantimentos para o resto da jornada,
afundavam como se fosse neve fofa do longínquo norte. Tudo correra bem com
exceção da intromissão da chuva.
Kethoth já estava com sua barraca montada e secara-se com uma de suas
toalhas de linho. Elas não eram boas, mas era o que todos os soldados tinham
recebido. Ele tinha uma toalha de algodão importado do distante oriente. Uma
terra chamada Kara-tur, onde nenhum homem de Faerûn jamais havia posto os pés. Ou
se tinha, ele nunca voltara de lá. Todos os comerciantes que faziam as
caravanas de Faerûn até Kara-tur eram orientais e povos seminômades do grande
deserto a leste de Mulhorand.
Mesmo para Kethoth, que julgava conhecer muito do mundo, o oriente
parecia algo vago e incerto. Havia lendas e mitos de dragões estranhos naquelas
regiões, muito diferentes dos que viviam em Faerûn. Dizia-se
também, que quanto mais longe se ia ao oriente, mais ricas e douradas ficavam
as cidades. Quando Kethoth imaginava as cidades orientais, sempre via Skuld,
mas com ouro no lugar de toda a madeira. Não que em Skuld houvesse muita
madeira, mas era assim que Kethoth imaginava as cidades orientais.
Agora, porém, não havia nenhuma riqueza ou luxo para nenhum dos homens de
Kethoth. E ele não achava justo, mesmo sendo o general comandante daquele
batalhão, dar-se mais luxo do que aquele que podia dar aos seus soldados. Usava
sua armadura dourada somente porque era o símbolo de sua posição. Seu elmo
estava colocado de lado, pois precisava raspar seu cabelo novamente. Toda a vez
que o cabelo começava a crescer, a malha que usava por baixo do elmo dourado incomodava
mais do que era capaz de suportar. Era o único luxo que estava se dando. Raspar
o próprio cabelo com sua faca. Ele a mandara amolar especialmente para tirar o
cabelo e ficara assustado com a forma que a faca voltara. Extremamente fina e
desbastada em ambos os lados, mas depois de testá-la, viu que o armeiro sabia o
que estava fazendo melhor do que ninguém. A faca cortava os cabelos com
suavidade e precisão e foi uma das primeiras vezes que Kethoth não se cortou
enquanto se raspava.
Quando Kethoth já estava quase terminando o trabalho, diante de seu
pequeno espelho, Urhur apareceu junto à entrada da tenda. Kethoth, que estava
de costas para a entrada, ouviu a chegada do amigo e ergueu o espelho para
poder olhá-lo nos olhos enquanto estivesse ali.
– Precisa de alguma coisa, Urhur? – Perguntou Kethoth, pousando a lâmina suja
no colo da capa. – Tudo em ordem com os preparativos do acampamento?
– Sim! – Respondeu o homem. Ele ainda estava em sua armadura, mas parecia
que algumas fivelas já estavam abertas. – A questão nem mesmo é minha. Mas vários
dos homens perguntam quanto tempo ficaremos acampados aqui. E como a maior
parte deles não está satisfeita com toda a chuva e a demora que andamos tendo,
acho melhor que a informação passe por mim ao invés de que você transmita
diretamente a eles.
– Ficaremos tanto quanto eu achar necessário. – Disse Kethoth, finalmente
se virando para encarar seu segundo em comando. – Mas diga a eles que não se
preocupem, pois sei e compartilho da impaciência que eles têm. Quero entrar
logo em Shussel e dormir em uma cama de verdade e que de preferência não
balance. É só isso?
– De minha parte é senhor. – Urhur se curvou e continuou monocromaticamente.
– Me da sua permissão para me retirar?
– Tenho uma coisa para lhe pedir também. – O soldado levantou o rosto,
com uma expressão inquisitiva. Ao que Kethoth respondeu. – Traga-me o cartógrafo
e o mapa. Quero descobrir exatamente onde estamos antes de liberar as embarcações
para voltarem.
– As suas ordens, General. – Respondeu Urhur. Virou-se e saiu.
Até mesmo a relação entre os dois amigos tinha esfriado com a chuva. Aquilo
nunca passara pela cabeça de Kethoth, mas estava acontecendo. O tempo estava
horrível lá fora agora. Provavelmente haveria neblina durante a noite. Era
incomum neblina tão perto do mar, mas Kethoth conhecia a região e sabia que com
o tempo e as nuvens como estavam, não tinha outra explicação. A névoa esfriaria
mais ainda o clima e também o ânimo do batalhão.
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